Anderson Schneider

Anderson Schneider nasceu no Paraná (Ponta Grossa, 1974) e graduou-se em arquitetura e urbanismo pela FAU-UnB (Brasília, 1997), deixando a profissão no mesmo ano de sua formatura para dedicar-se à fotografia. Fortemente compromissado com o caráter documental de seu ofício, Schneider já foi por quatro vezes nomeado finalista do prestigioso W. Eugene Smith Grant (EUA, 2006, 2007, 2008 e 2010), recebeu o Prêmio Especial de Fotografia Humanitária da IV Bienal de Fotografia de Pleven (Bulgária, 2005) e a Bolsa Funarte de Estímulo à Criação Artística (Brasil, 2008), além de contar com duas premiações no NPPA Best of Photojournalism (EUA, 2005 e 2007). Suas imagens participam regularmente de diversas mostras e festivais internacionais de fotografia, já tendo sido expostas no Brasil, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Itália, França, Bélgica, Bulgária, Lituânia, Alemanha e China. Seu trabalho integra a Coleção Pirelli/MASP de Fotografia, o acervo do Museu AfroBrasil e, ainda, diversas coleções particulares.

Série: Brasília Concreta

Brasília Concreta trata-se de um documentário. Um retrato da atmosfera, do imaginário de uma jovem cidade que, às vésperas de seu cinquentenário, vive às voltas com a busca de sua própria identidade, de suas próprias esquinas e becos os quais, embora ausentes no traçado original, brotam aos montes pelas frestas de sua asséptica brancura modernista. Um ensaio de sondagem psicológica dos que vivem não na Brasília sonhada, mas na Brasília insone. Um retrato dos homens e de suas sombras, da imperfeita perfeição de uma cidade que não é mais o que fora desenhada para ser e que busca, obcecadamente, explicação para o espanto de sua própria criação.

Brasília Concreta é a documentação de uma perspectiva marginal e marginalizada da cidade – o verso de seu cartão postal.

Série: Sombria

Sombria é uma cidade que não existe, o lar de velhas lembranças, dúvidas e medos. Sombria permanece esquecida em um canto escuro da inconsciência, na esperança de que, se não incomodada, também não incomodará.

Esquecida talvez não seja a melhor palavra: escondida, em razão do medo e do desconhecimento.

Tememos Sombria, talvez pela enorme e paralisante força com que nos domina, talvez porque saibamos o quão nossa ela é: espelhos tortos de nossas virtudes, nossa mais íntima realidade.

Série: Eldorado

Nos últimos dias de dezembro de 2006, a notícia de que ouro havia sido encontrado na bacia do Juma rapidamente se espalhou pela Amazônia, atraindo homens e mulheres para o meio do nada, sob a quase irresistível promessa de uma vida melhor. Algumas semanas depois, o rumor já havia se espalhado pelo país inteiro e mais de 8.000 pessoas, batéia à mão, se espremiam nos riachos da região, transformando rapidamente o que antes era floresta num gigantesco buraco no meio da mata, feito de lama, doenças, exploração e sonhos de riqueza fácil. Gente de todas as partes do Brasil fizeram dessa corrida do ouro a maior desde Serra Pelada. Muito poucos ficaram ricos, alguns acharam ouro, mas todos os outros encontraram somente as cruéis e selvagens condições de trabalho do garimpo, descobrindo às custas do próprio sangue e suor o quão sombrio um sonho pode vir a ser.

O lugar ficou conhecido como o Eldorado do Juma, uma terra sem lei, sem piedade e sem mais ouro, onde mais de 2.000 pessoas ainda lutam para conseguir uma pequena porção do metal, somente a quantia necessária para uma passagem de volta para casa.

Série: Jericos

Uma semana por ano, a pequena cidade de Alto Paraíso em Rondônia polariza a atenção de boa parte da Amazônia brasileira. Com seus 16.000 habitantes, sendo somente 6.500 na área urbana, a cidade recebe a cada fevereiro mais de 45.000 pessoas vindas de diversas partes do centro-norte do país, uma multidão unida pela paixão por música, lama e fumaça de óleo diesel.

Em uma pista feita de terra e água das abundantes chuvas amazônicas, veículos que parecem ter saído de um desenho de Hanna & Barbera disputam, poça de lama a poça de lama, o mais exótico grande prêmio do automobilismo nacional. Com o alto e característico ronco do motor estacionário ecoando por todo o jericódromo, pilotos brigam, em meio a muita fumaça e barro nos olhos, por um melhor traçado na pista, enquanto a platéia, em êxtase, se perde entre gritos de torcida e banhos de lama. A corrida de jericos – sugestivo batismo do veículo nascido da adaptação de um volante e um chassi de ferro velho a um motor de bombas de garimpo – já completou a sua décima terceira edição agora em 2014 e, a cada temporada, conta com um novo número recorde de jericos inscritos, todos vindos das mais remotas áreas rurais da região.

Ao final do grande prêmio, de corpo e alma lavados, a pacata cidade do interior de Rondônia volta ao seu ritmo normal e os jericos, de incríveis máquinas maravilhosas, voltam a pipocar calmamente pelas ruas de Alto Paraíso, carregando o peso da dura vida do interior sobre suas carrocerias.